Há
três anos que escuto o Arthur (um dos articuladores da Rede[APR]-:)
falar e cantar carnaval pra gente, suas histórias, seus enredos, sua
harmonia, suas cores, dialogando conosco sobre suas experiências no
Rio de janeiro, Icoaraci e Belém do Pará. A partir dos relatos
dele, fui percebendo que o carnaval é muito mais do que a Globo, que
pra mim não é rede, mostra e, que por trás de tanta alegoria
havia um contexto artístico-social extremamente interessante, que
merece mais atenção, digo egoístamente, da minha parte, e digo
absolutamente, de todo mundo.
Dia
desses depois de uma prova de três horas sobre as Mônadas do
Leibniz,um aluno de filosofia da Universidade Federal do Pará,me
falou que não gostava do carnaval da capital do Pará, pois achava
uma mera cópia dos carnavais carioca e paulista. Eu pensei : - Esse
cara, não entendeu nada sobre as Mônadas...Estas, são as
substâncias primeiras no mundo, são as únicas coisas que existem
em si, e o movimento delas é intrínseco, ou seja acontece dentro
delas, é um movimento dentro do imóvel, tá; mas o mais importante
de entender isso, é que depois de tanto blábláblá da Monadologia,
você percebe o mundo como uma máquina orgânica , ou seja,dotada de
alma, anima, e que tudo faz parte de um todo vivo, que se movimenta
mesmo que parado, e que o espaço e tempo não passam de sucessão de
situações do que ocorrem no mundo, isto é, aqui e agora; logo,
você me pergunta : - Mas que diabos isso tem haver com a relação
de cópia que teu amigo da filosofia fez entre o carnaval de Belém e
o do das grandes metrópoles do Brasil? Então, tenho que responder:
Depois,
de através da Rede[APR]-:, eu ter ido para a Aldeia cabana, a
avenida do samba de Manga´s Manga´s babilon city, não tive dúvidas
que o carnaval da cidade é bem igual ao do Rio e de Sampa, digo
estruturalmente, em uma tentativa de organização, mas estou
partindo do pressuposto monástico,não sei se essa palavra existe,
mas quero dizer das Mônadas, ou pelo menos, do que eu disse sobre
elas; onde se temos uma estrutura imóvel, pois ela é igual à de
lá, temos também um movimento original que ocorre dentro dela. O
que eu senti, correndo de um lado para o outro, tirando fotos,
fazendo filmagens com um celularzinho, que tem uma ótima imagem
diga-se de passagem, foi uma energia muito cativante, emocionante
mesmo; quando vi a Tradição Guamaense, inovando na batida,
misturando, samba de verdade com um tecnobrega de super sucesso,
entrei em êxtase. Claro, toda escola tem seu mérito, mas digo
sinceramente, que me apaixonei mesmo pelas menores, as que tinham
dois carrinhos alegóricos, cheios de sucatas. E a Quem são Eles,
que depois de muito tempo esperando um carro quebrado do Rancho não
posso me amofinar sair da avenida, entrou às 8 horas da manhã, com
todos os seus foliões chorando e a bateria gritando que me deixou
toda arrepiada? Sabe por quê? Por que o movimento ali é
intrinsecamente vivo, cheio de energia. Envolve muita gente, desde
dono da escola, até os que empurram os carros, os que limpam a
avenida aos que montam as fantasias; quando a escola passa, tem muita
criança ali, que mesmo morrendo de sono, agüentam o tranco, pois é
emoção, é o afeto pela história que estão construindo juntos,
todos juntos, pensando, cantando, costurando, gritando e sambando.
Entendem? Construção de uma história deles, por Eles mesmos? Digo
até nossa, pois eu estava lá, correndo toda serelepe, com uma
câmera na mão, a câmera do possível, fazendo a mídia para eles.
E Essa é a ação de liberdade direta que Rede[APR]-: proporciona,
fazer registros fotográficos, textuais, visuais, de forma até mesmo
lúdica, experimentando sensações da vida com ela é para que uma
dialógia crítica ocorra.
Portando
eu pergunto agora : - qual é o problema deste nosso carnaval ser uma
mera cópia? o que de fato não é realmente; mas qual o problema? Se
o movimento causado por esta “cópia” é altamente producente?
tenho certeza que este amigo , quase filósofo, não tem nenhum
filho marginal, que nos dias de carnaval prefere pegar o tamborim a
ter que pegar uma arma para assaltar. E afinal, copiamos coisas
muitos piores da grande mídia, que nos vende do Rio de janeiro e de
São Paulo seu lixo industrial todo dia, e olha que nós nem
reclamamos, até gostamos, achamos que é o “normal”. Penso que a
função social do carnaval é distribuir carnavalescos, assim como a
da filosofia é distribuir filósofos. E quanto mais gente tiver a
oportunidade que alguns poucos tem, de fazer, falar, mostrar-se,
menos indigno este Brasil se torna.
Bruna
Suelen
[aparelhada]-:,
quase filósofa , não artista e que não é da imprensa.